segunda-feira, março 14, 2016

redoma de vidro

"da ponta de cada galho, como um enorme figo púrpura, um futuro maravilhoso acenava e cintilava. um desses figos era um lar feliz com marido e filhos, outro era uma poeta famosa, outro, uma professora brilhante, outro era ê gê, a fantástica editora, outro era feito de viagens à europa, áfrica e américa do sul, outro era constantin e sócrates e átila e um monte de amantes com nomes estranhos e profissões excêntricas, outro era uma campeã olímpica de remo, e acima desses figos havia muitos outros que eu não conseguia enxergar. me vi sentada embaixo da árvore, morrendo de fome, simplesmente porque não conseguia decidir com qual figo eu ficaria. eu queria todos eles, mas escolher um significava perder todo o resto, e enquanto eu ficava ali sentada, incapaz de tomar uma decisão, os figos começaram a encolher e ficar pretos e, um por um, desabaram no chão aos meus pés." (sylvia plath)

nos últimos tempos, só tenho conseguido me dedicar ~ de verdade ~ a assistir séries de tevê bem bestas. e foi assistindo "master of none" no netflix, série super lesa, mas ótima nos meus padrões atuais, que, no último episódio, me fez dar de cara com a indicação desse livro, o único romance de escrito por sylvia plath: a redoma de vidro.

assustadoramente, por saber um pouco como foi a vida da escritora, me identifiquei demais com a estória (piorou quando descobri que foi uma espécie de autobiografia que ela publicou sob um pseudônimo). mas é exatamente assim que venho me sentido nos últimos anos, com milhares de possibilidades de vida maravilhosas se apodrecendo na minha frente sem que eu consiga fazer nada a respeito.

acho até que a situação se agravou substancialmente com perda do meu amigo, mas é algo já antigo. não consigo evitar, mas, o tempo inteiro, fico observando as vidas das pessoas à minha volta para tentar descobrir o que as faz levantar da cama todo dia e ir estudar, trabalhar ou sei lá o quê.

quanto a mim, adoro viajar e planejar minhas viagens, mas não posso passar todos os meus dias viajando... então, o que fazer no meio tempo? assim, percebi que comecei a me tornar numa pessoa chata, sempre muito deprimida.

mas agora resolvi tentar virar o jogo. os meus dias têm que ser mais divertidos e, se estudar para um concurso melhor não está me fazendo feliz, é por que eu estou escolhendo o caminho errado. a primeira atitude foi me matricular num curso de alemão. por quê? por que eu queria há um tempão e nunca me permitia.

sei que ainda não posso largar tudo para fazer um curso para aprender a fazer massa em roma, mas espero ter a coragem de fazer o que for preciso, quando descobrir o que realmente quero. só não posso continuar sendo a mulher que fica olhando os figos apodrecerem e caírem dos galhos da árvore...