então, meu amigo se foi.
não adiantou encher o saco dos médicos ou tentar barganhar com deus. ele foi piorando, piorando, passou uma semana declarando amor para todos os amigos na uti, depois piorou mais ainda e, finalmente, não aguentou mais.
por mais que eu soubesse que a saúde dele era extremamente frágil, eu não estava preparada para isso. achava, sei lá, que ele fosse durar pelo menos mais uns dez anos. ou fosse virar semente.
nem mesmo lá em barcelona, quando ele ficou internado no semi-intensivo após uma hemorragia interna, quando só tinha euzinha lá com ele, me passou pela cabeça que ele pudesse morrer. eu - sabia - que ele ia ficar bom e eu só tinha que resolver como pagar o hospital. felizmente, tudo deu certo e eu o devolvi, são e salvo, para a família dele.
mas, desta vez, eu não consegui.
a vida está estranha sem ele. me sinto muito só e tenho muito medo. me sinto desprotegida. por que, por mais que ele tivesse as suas inúmeras limitações, ele cuidava muito mais de mim do que eu dele. e sem pedir nada em troca, além da minha amizade.
tem horas que parece mentira. parece que ele só está passando por aquelas fases que não pode sair muito de casa e que, logo logo, vai estar por aí de novo. mas tem outras que a realidade vem como uma avalanche e eu nem tenho lágrimas suficientes para chorar tudo o que preciso.
às vezes, acho que devia ter dito mais como ele era importante para mim. mas, por outro lado, acho que não precisava dizer nada. que, no meio de toda a minha tagarelice, ele escutava o que o meu coração estava dizendo.
perdi meu maior companheiro para passeios sem futuro. de ir pro cinema, sem fazer check-in, para ninguém saber. para comer cachorro-quente no domingo à noite. de ir almoçar comigo nos dias que eu era obrigada a passar o dia inteiro no trabalho e fazer a experiência ser bem menos traumática. para fazer companhia nos momentos mais difíceis e, mesmo que eu não conseguisse dizer o que estava passando para ele, me ajudar como ninguém mais conseguia. além disso, só ele para me acompanhar cantando hefner aos berros ou imitando o dueto de ben folds e regina spektor e continuar gostando de mim do mesmo jeito.
falando em música, impossível não lembrar daquela fila interminável no detran e a gente cantando "death to everyone" dentro do carro e rindo por horas. pois é... "death to everyone is gonna come...", mas preferia que eu não tivesse que ter visto você ir primeiro.