quarta-feira, outubro 19, 2016

beyond the sea

o que dizer sobre oito dias e sete noites a bordo de um cruzeiro rodando pelo mediterrâneo com drinks ilimitados ao lado de um dos meus melhores amigos?

há dias eu penso em escrever este post e não sai muita coisa.

 a viagem foi ótima... inesquecível, eu diria. mas acho que nem tão cedo toparia embarcar em outro navio desses.

principalmente, por que eu não me sentia livre o suficiente para caminhar pelas cidades em que parávamos. o tempo que ficávamos em terra era curto demais e eu me sentia obrigada a pegar aqueles ônibus de turismo para ter um visão geral do lugar. e, cá para nós, eu não gosto nem um pouco deles. prefiro estudar sobre a cidade com calma e andar doze horas por dia, durante vários dias, até acabar com a sola do pé.

além disso, tinha aquelas breguices que você já espera de um cruzeiro. e também muitos velhos, alguns brasileiros reaças e a grande parte dos jovens eram, na maioria, um bando de italianos inconvenientes. tenho que confessar que apesar de ter amado a itália na minha viagem do ano passado, fiquei com uma impressão péssima por causa dos italianos do navio... muita gente mal-educada e grosseira, que a melhor opção foi ficar longe deles.

mas se eu tou reclamando tanto, por que eu disse que foi uma viagem inesquecível?

por que com meu amigo do lado, acho que me divertiria até na programação mais roubada, quanto mais a bordo de um navio lindo, conhecendo lugares igualmente lindos e com todo o álcool que eu aguentasse consumir. :P

a gente se divertiu demais... principalmente com os funcionários que estavam a bordo. tinha gente de todo canto do mundo por lá, inclusive de lugares que eu nunca imaginava que iria conhecer alguém, como madagascar, congo, mianmar, índia e sérvia. quando a gente chegava nos bares ou restaurantes do navio, sempre tinha alguém que nos chamava pelo nome e vinha nos receber com um sorriso. nunca mais esqueço que "manahoana", é "olá" na língua de madagascar e que nosso amigo congolês gravou um áudio  para nós dizendo algo que soava como "brajavum, brajavum", que teoricamente também significa "olá" na língua dele. (e foi mal phyo de mianmar, mas apesar de você ter escrito num papelzinho como era na sua língua, depois de tantos mojitos, eu não sei onde coloquei). 

dentre os passageiros, os nossos preferidos foram tereza e miguel, um casal português, na faixa etária dos nossos pais, que encontrávamos toda noite no restaurante do navio. miguel era um jornalista aposentado, que já  tinha viajado para acompanhar as eleições em vários países pobres e, se não fossem os brasileiros reaças que sentavam também na nossa mesa, gostaria de ter conversado mais sobre a situação do brasil com ele. já tereza era bem pequeninha e falava pelos cotovelos, com seu cabelo branco sempre muito bem arrumado. eu não me cansava de ouvir as histórias dos seus milhares de empregos diferentes e de seus três netos ("duas raparigas e um pitôco").

nós também fazíamos questão de participar de todas as festas do cruzeiro. toda noite tinha uma. na festa branca, estávamos nós vestidos de branco; na festa italiana, nossas roupas eram da cor da bandeira da itália; na festa dos anos 60, 70 e 80 (meio amplo, né? :P), fizemos o nosso esforço pra não fugir do tema; e na festa de gala, lá estávamos nós com nossas roupas de ir para casamento. e por mais que isso tudo possa soar brega (e é... bastante!), a gente aproveitou da melhor maneira, rindo, dançando, puxando papo com as pessoas e provando os milhões de drinks diferentes (claro!).

para curar a ressaca, praticamente viramos sopa depois de tantas horas de molho na jacuzzi super quente do navio. outra opção era ver as festas na beira da piscina, jogados nas espreguiçadeiras e rir dos "gringos" tentando fazer passinhos ao som de funk carioca.

na hora de desembarcar, bateu uma tristezinha por deixar aquilo tudo pra trás. nem tava mais reclamando (tanto) dos italianos e já estava com saudade ficar olhando aquele marzão enquanto tomava café, de ver a luz da lua refletida naquelas águas durante à noite e de, praticamente todo dia, acordar numa cidade diferente. se não fosse por essa viagem, não teria conhecido malta agora (não estava na minha lista de prioridades) e gostei tanto da capital valetta, que já me vejo pensando em voltar para ter mais tempo para bater perna por lá.

tomamos um aperol spritz de despedida e deixamos o navio para o último dia de viagem em barcelona. e, pensando bem, talvez eu encare um outro cruzeiro, quem sabe, né? principalmente, se for um do weezer. ;)

sexta-feira, setembro 23, 2016

barcelona

quando cheguei a barcelona, tive a sensação de que estava voltando para casa. e que sensação boa.

saindo do aeroporto eu já sabia exatamente onde pegar o ônibus circular que leva à estação, cujo trem me deixa na porta do hotel quase hostel onde me hospedo toda vez e que tem um edifício construído por gaudí ao lado.

gosto tanto daquela cidade (e como fico hospedada numa região bem central) que quase não tenho vontade de pegar transporte público. saio andando na direção da cidade velha para me perder e me achar por entre as ruazinhas estreitas com seus prédios antigos. eu não sei explicar direito o que sinto quando estou por lá, é uma mistura de deslumbramento e pertencimento e, a cada cinco minutos, ficava sacudindo meu amigo e falando: “olha, gustavo, estou em barcelona de novo”!

a novidade boa é que minha hamburgueria preferida que fica na barceloneta (se chamava kiosco e agora é bacoa), abriu uma filial bem pertinho do meu hotel-casa e o sanduíche continua tão maravilhoso quando eu lembrava. o meu preferido é o machego que vem com queijo e cebolas caramelizadas e eu sempre peço que venha com pão australiano, bacon e batatas rústicas e com uma cervejinha epidor da moritz para acompanhar. engraçado foi que, enquanto eu fazia o meu pedido, o rapaz do caixa só fazia concordar comigo dizendo que era o pedido preferido dele também.

depois do hambúrguer, tive que mostrar ao meu amigo o meu pub preferido da cidade, o manchester, sujinho, escuro e com cerveja barata, no bairro el raval. de lá saímos de bar em bar, sem nenhuma indicação, só olhando pelo lado de fora os que mais nos agradavam provando cervejas espanholas ou não até terminar a noite na sala apolo, onde dançamos até as cinco da manhã. e o melhor de tudo foi que fizemos todo o percurso da ida e da volta andando, mesmo sendo noite.

é, com certeza, uma das cidades mais bonitas que já visitei. tá... eu já fui a paris e achei bem bonita também, mas eu acho que o ares catalães combinam muito mais comigo. daí, por favor, não me chamem de louca por falar que gosto mais de barcelona do que de paris, por que eu gosto mesmo. as construções de gaudí, a praia, o bairro gótico, as ramblas, o parque de montjuic...  todo o conjunto me agrada muito.

continuo gostando muito de lá, mesmo depois de ter passado uma experiência traumática com meu amigo que faleceu este ano. andei de ambulância, praticamente morei na sala de espera do hospital enquanto ele estava internado no semi-intensivo e chorei sozinha a noite, pedindo a barcelona que ela, por favor, não me decepcionasse. e ela não me decepcionou e eu trouxe meu amigo são e salvo de volta para casa. este meu retorno foi como fazer às pazes com a cidade e agora sinto que nada do que passei afetou o meu sentimento por ela.

na noite do último dia em barcelona, eu, simplesmente, não conseguia voltar para hotel. pouco importava quantas horas eu havia andado naquele dia, eu queria aquela última voltinha no quarteirão para implorar ao garçom do pub da esquina pela última saideira. se eu pudesse, ainda estava por lá caminhando...

segunda-feira, setembro 05, 2016

wanderlust

acho que essa é uma das minhas palavras preferidas do inglês. segundo um dicionário que eu acabei de olhar por aqui, trata-se de uma expressão derivada do alemão que significa um desejo muito forte, um impulso irresistível de viajar. e eu, com certeza, sofro profundamente de “wanderlust”, 24 horas por dia, 365 dias por ano. 

acho que só não viajo mais por que tenho que manter o meu emprego para pagar as contas das viagens. como uma boa capricorniana pé-no-chão, eu ainda preciso de um pouco de estabilidade e talvez por isso ainda não larguei tudo e fui embora de vez. mas estou sempre matutando sobre melhores maneiras de fazer minhas férias renderem para poder passar mais tempo viajando e trabalho como mesária em todas as eleições para ganhar dias de folga extra.

talvez o título dessa postagem devesse ser outro. algo como: “oops!... i did it again”. isso por que há poucos meses falei dos meus desejos de ano novo e como eu queria viajar menos para juntar dinheiro para comprar meu apartamento. mas eu ainda quero.

o problema (ou a solução?) foi que eu recebi uma proposta quase irrecusável para viajar desta vez de um amigo meu. aí meu lado viajante falou muito mais alto e lá vou partir de novo para europa ainda esta semana.  

vai ser minha primeira vez em um cruzeiro, que vai sair de barcelona, uma das cidades que eu mais adoro nesta vida. vamos passar também por marselha, gênova, nápoles, messina, la valetta e palma de maiorca. eu nunca antes sequer pensei concretamente em viajar de navio, mas, como disse, foi uma proposta quase irrecusável. ansiedade é boia aqui.

quinta-feira, agosto 25, 2016

que você seja feliz

tem uma coisa que o budismo me chamou a atenção, que é bem óbvia, mas que deve passar despercebida pela maioria das pessoas que é: todos estão aqui, nesta vida, apenas buscando a felicidade e tentando se livrar do sofrimento. como eu disse antes, muito óbvio, né? tudo que a gente faz nessa vida, incluindo os “murros em ponta de faca”, que ocasionalmente damos, é para buscar satisfação e correr da tristeza e outros sentimentos ruins.

foi mantendo isso na cabeça, que, de certa forma, comecei a ver as pessoas ao meu redor de maneira diferente e tenho sentido uma espécie de alívio. tenho tentado julgar menos (o que é difícil, mas estou tentando) e tenho procurado apreciar mais as qualidades positivas dos outros. afinal, quando alguém faz uma besteira que nos incomoda é só por que ela estava tentando ser feliz do mesmo jeito que a gente sempre está, não é? fazer isso é muito dureza, principalmente considerando meu temperamento explosivo e um consideravelmente dramático.
 
um dos métodos que o budismo aponta para ajudar nesse processo é chamado de metabavana, a meditação da bondade amorosa ou amor universal. a prática é mais ou menos simples e não precisa que você fique na postura de meditação formal. basta desejar a felicidade e a liberação do sofrimento para você, para uma pessoa que você goste muito, para uma pessoa neutra (alguém que você vê com frequência, mas não conhece), uma pessoa com você tem dificuldades (parte hardcore) e depois estender esses desejos para todas as pessoas do mundo. existem algumas frases já pré-determinadas para ajudar quem está começando, tipo:

    que ____ seja feliz.

    que ____ não sofra.

    que ____ encontre as verdadeiras causas da felicidade.

    que ____ supere as causas do sofrimento.

    que ____ supere toda ignorância, carma negativo e negatividades.

    que ____ tenha lucidez.

    que ____ tenha a capacidade de trazer benefício aos seres.

    que ____ encontre nisso a sua felicidade.

(o traço ___ é o local onde você coloca o nome de alguém)

isso é só um guia, se preferir é possível que você crie as suas próprias frases.

o interessante da prática da metabavana é que você começa desejando essas coisas todas primeiro para você mesmo. pode parecer meio egoísta, mas é bem importante. nessa hora eu me confronto com tudo  que não aceito sobre mim mesma e sobre todos os momentos que eu preferiria ter agido de outro modo e percebo que eu também, do mesmo jeito que todo mundo, só errei por que estava buscando ser feliz e fugir do sofrimento. e cheguei a conclusão que muitas vezes eu me desaponto com as pessoas, por que exijo delas um nível altíssimo de perfeição que eu exijo de mim mesma. mas eu não sou capaz de atingir esse nível de perfeição, nem as outras pessoas. isso me ajudou muito a sair do processo depressivo que eu estava enfrentando há muito tempo e, inclusive, consegui largar os remédios e deixei de ir para terapia por que só estava falando com a psicóloga sobre como estava conseguindo entender melhor como minha mente funcionava e estava conseguindo me puxar para fora da espiral decadente.

imagina um mundo no qual todo mundo é feliz e não sofre? acho que não tem coisa melhor para se desejar. então vou continuar nessa onda e ver até onde eu chego.

agora, difícil mesmo, é desejar a felicidade para os motoristas barbeiros do trânsito desta cidade. hoje mesmo estava numa fila enorme de carros e veio uma criatura, pela contramão, e furou a fila. na mesma hora fiquei com ódio e fiquei xingando ele de tudo na minha mente, até que me dei conta que ficar com raiva dele só estava fazendo mal a mim mesma. então, fiz um pouquinho de metabavana pra ele, fiquei calma de novo e saí cantando no carro. cheguei no trabalho me sentindo ótima. :)

terça-feira, agosto 16, 2016

jesus, etc



eu costumava a criticar - e muito - meus amigos mais velhos que só escutavam músicas dos anos 80. isso foi no início dos anos 2000, mas, hoje, tenho medo de estar ficando igual a eles.

há uns 15 anos atrás, apesar da internet ainda estar "começando" e da velocidade ser muito lenta, eu vivi momentos muito legais, lendo sobre bandas no allmusic, baixando músicas (soulseek, oi?), escutando a rádio woxy e visitando tantos outros sites que não consigo lembrar o nome agora. era uma sensação bem boa, de que, a qualquer momento, eu podia descobrir a minha mais nova canção favorita. e foi nessa época que conheci quase todas as bandas que eu sou viciada até hoje... wilco, decemberists, tindersticks, flaming lips e tantas outras, que ou estavam gravando naquela época ou eram clássicos que até então eu não conhecia (como o imortal, nick drake).

naquela época eu era apenas uma estagiária e, com o valor da minha bolsa, eu só podia sonhar em ir ao primavera sound em barcelona. era quase masoquismo olhar a lista de bandas do festival, pois a grande maioria das bandas eu conhecia e gostava (umas mais, outras menos).

hoje em dia, já realizei o sonho de ir para o primavera duas vezes. vi flaming lips, pulp, nick cave, blur, interpol, of montreal, belle and sebastian e tantas outras bandas ótimas, que a carol de 2004 ia, com certeza, morrer de orgulho da carol de 2016.

mas o que me preocupa é que, de uns tempos para cá, eu tenho notado que parei nesse período da minha vida (o início dos anos 2000) do mesmo jeito que meus amigos ficaram parados nos anos 80. não é que eu seja obrigada a sempre procurar por bandas novas para gostar, não é isso. a verdade é que eu tenho sentido falta daquela "emoção" que era descobrir uma nova música linda.

além disso, olho para os pôsteres do primavera sound e, apesar de ainda conhecer muitas das bandas, não é a mesma coisa. sinto como se a maioria dos nomes da lista são coisas completamente desconhecidas. baixo playlists e mais playlists no deezer, procurando algo que me emocione, mas isso tem acontecido muito raramente. não acho que bandas legais novas estejam em falta. acho mesmo que o problema é comigo... estou ficando velha, chata e apegada as bandas que eu gostava aos vinte anos. só queria saber como fazer diferente.

(ps: o clipe e o título do post são de uma das primeiras músicas que ouvi do wilco - em 2002 - e uma das minhas preferidas até hoje.)

quarta-feira, julho 27, 2016

god bless america

eu sempre digo que quem decide o destino da minha próxima viagem é a promoção... e isso é verdade na maioria das vezes.

ano passado foram duas passagens que surgiram por preços quase irrisórios: 300 reais para brasília - amsterdã (ida e volta) e 100 doláres para porto alegre - genebra (também ida e volta). sorte minha que tenho minha companheira de aventuras, pois é só ligar para ela e 10 minutos depois já estamos com as passagens compradas. também tenho sorte de ter uma chefe ótima que sempre arruma um jeito para que eu possa marcar minhas férias de acordo com as promoções que eu acho.

antes que alguém pergunte (se é que alguém lê este blog), eu descubro a maioria dessas promoções acompanhando o site e o aplicativo do melhores destinos e, segundo meu tio, até desenvolvi uma nova patologia que é ficar o tempo todo falando das promoções de viagem que aparecem nas notificações do meu celular. :P

foi numa dessas minhas buscas por passagens aéreas baratas que acabei indo parar nos estados unidos de novo. sabia que iria para o canadá, por que já havia prometido a minha amiga, mas, para decidir de onde iria voltar, peguei a programação de viagem dos meus outros amigos e fiquei olhando qual combinação daria o menor preço. foi assim que comprei passagem de ida para toronto e volta de nova york. e, depois de cascavilhar ainda mais preços e destinos, resolvemos fechar a saga passando por washington d.c., philadelphia e nova york.

(ah... muitos poderão dizer que acabei gastando mais no final por que fiquei mais dias fora de casa e blablablá. mas para mim, o importante mesmo é viajar... e, se tiver na companhia de amigos, melhor ainda). 

são três anos seguidos que eu vou para os estados unidos todos os anos. não por que eu seja maluca pelo país, porém as coincidências da vida e das passagens baratas me levaram a isso. eu adoro nova york, é verdade... acho que posso ir milhões de vezes para aquela cidade que nunca vou enjoar, mas, por favor, se alguém me ouvir dizer que quero voltar para a flórida tão cedo, pode me amarrar no pé da cama até que eu mude de ideia, ok? (ainda bem que desta vez eu saí desse ciclo vicioso).

e o que eu posso dizer sobre essa parte americana da viagem? bem... adorei washington, principalmente por, apesar de ser a capital de uma das maiores potências do mundo, ter vários bairros arborizados com casinhas bonitinhas e coloridas em vez de trocentos arranhas-céus que mais parecem banheiros gigantes como aqui no recife. também adorei a philadelphia, ainda mais por ter ficado na casa de um amigo que nos levou para bater perna pela cidade inteira (foram mais de 20 km percorridos a pé em cada dia), que me fez ver um lado menos turístico da cidade... e se tem uma coisa que eu adoro fazer em viagem é andar sem destino para ver se consigo sentir um pouquinho da essência da cidade que eu estou visitando.

mas aprendi uma coisa muitíssimo importante: nunca mais viajar no verão (a não ser que seja para ficar num resort na beira da praia, tomando bons drinks). torrei demais em washington e isso acabou sendo desgastante demais. por sorte, peguei um tempo melhorzinho em philly e nyc, mas ainda assim estava quente. melhor mesmo é viajar num clima de 15 graus, com casaquinho leve e sem maquiagem derretendo.

também lembrei que, por mais que seja bom viajar, passar mais de 20 dias longe de casa acaba se tornando cansativo... até por que eu gosto de andar muito. eu acabo exagerando por que tenho essa loucura por viajar, mas preciso lembrar que viagens mais curtas e com menos escalas acabam sendo mais proveitosas. sem contar que, voltei tão cansada dessas últimas férias que o que eu mais preciso agora são férias das férias. :P

terça-feira, julho 05, 2016

blame canada

quando uma das minhas amigas de adolescência (e uma das maiores companheiras de farra) disse que iria fazer pós-doutorado no canadá, eu - imediatamente - garanti que iria visitá-la. mas só no verão... pois o canadá é frio demais e eu não tenho a menor vontade de virar um picolé.

apesar de ter prometido a visita, eu não tinha a menor ideia do que iria fazer lá. mas, assim mesmo, saímos do recife, eu mais três amigos para matar as saudades e nos aventurar pela região no calor.

cada vez mais acho que são as viagens que você cria menor expectativa, que acabam sendo as mais divertidas. em toronto, alugamos um carro e fomos para waterloo, onde minha amiga está morando. como ela não poderia passear conosco durante o dia, aproveitamos para fazer pequenas road trips pela província de ontário (por que as noites estavam reservadas às farras mais homéricas regadas a cerveja).

fizemos muitas coisas diferentes por lá: visitamos cidades muito charmosas e um  parque lindo construído em homenagem a shakespeare; fomos a mercados com verduras e frutas incríveis e várias comidinhas deliciosas; vimos carruagens pretas dos menonitas, uma espécie de povo amish da região, passando ao lado do nosso carro na estrada; conhecemos uma vila com cara de parque temático, toda voltada para o ski, na qual pegamos um bondinho pro topo da montanha para ter uma vista incrível do lago huron; percorremos praias de lago com cara de praia de verdade, praias de lago no meio das montanhas, cachoeiras e trilhas no meio do mato; chegamos de barco pertinho das quedas de niagara falls e tomamos o banho mais divertidos de nossas vidas;  e passeamos de bicicleta por entre vinícolas e uma cervejaria para fazer degustação. isso tudo sem incluir toronto (que merecia um post só seu).

a vista nas estradas era um show à parte: campos enormes de canola todos amarelinhos, fazendas de feno, de pinheiro, de vacas e de cavalos, cidadezinhas lindas de interior com casas tão grandes que só vendo para crer e os pores do sol mais incríveis na volta para waterloo.

o que mais me impressionou, entretanto, é que todas as cidades pelas quais passei, sejam elas grandes ou pequenas,  estavam decoradas com bandeiras do orgulho gay por estar se aproximando a parada de toronto (ou era uma época do ano de homenagem, talvez). eram bandeiras não só em lojas e casas particulares, mas nas prefeituras e outros prédios públicos. só assim para eu acreditar que estamos mesmo em 2016, como o justin trudeau fez questão de afirmar anteriormente. aliás, nunca vou me perdoar por ter estado em toronto um dia antes da parada e ter  perdido o primeiro ministro se jogando no desfile.

segunda-feira, junho 20, 2016

fiquei para titia

hoje está fazendo dois anos do dia que eu passei quase a noite inteira em claro na sala de espera de um hospital só para ver o rostinho da minha primeira e, até agora, única sobrinha (que depois se tornou minha segunda afilhada). foi um momento mágico quando ela apareceu na janela do berçário: apesar de ser gigante como a família do pai dela (52 cm e 4,100 kg), ela tinha no rosto todos os traços da família materna, a minha família... parecia uma miniatura do avô, toda gordinha e rosada, com olhinhos puxados e nariz pequenininho.

apesar de ter me apaixonado perdidamente à primeira vista, tenho que confessar que o fato de virar tia não foi algo que aceitei muito facilmente. eu já devia esperar que algo assim fosse acontecer em breve, até por que as duas irmãs mais novas já casadas e ter um filho é, teoricamente, o próximo passo.

o meu problema é que (vergonha de admitir, mas já admitindo) passei a vida inteira aprendendo a temer o fato de "ficar para titia". acho que no meu subconsciente tinha uma imagem horrível de uma mulher solitária, horrorosa, com verruga no nariz e tudo mais, e muito triste só por que a irmã mais nova tinha tido um filho e ela não. e para piorar, me peguei várias vezes aconselhando minha irmã a esperar, mais por medo do estigma do que por entender a loucura que estava rolando na minha cabeça.

demorou um tempinho, mas eu finalmente me dei conta da minha maluquice. primeiro, eu tenho uma vida ótima, amigos maravilhosos e ainda tenho conseguido realizar grande parte dos meus desejos sozinha, e, segundo, não posso bancar a vítima, pois estar solteira faz parte de várias decisões minhas, que, bem ou mal, me trouxeram até onde estou agora. e quando é mesmo que ter um homem e um filho vão me garantir felicidade absoluta?

eu, inclusive, me dei conta que nem sei se quero ter um filho mesmo. do mesmo jeito que colocaram esse "ficar para titia" na minha cabeça, será que também não colocaram esse história de ter que ter um filho também? tenho pensado muito nisso e talvez algum dia desses eu chegue numa conclusão (antes do relógio biológico disparar, espero).

a verdade é que eu adoro crianças. sempre adorei. participei até da criação de vários primos mais novos (tem toda uma horda de fãs de cultura nerd e música indie na família, por causa disso) e sou madrinha de duas meninas lindas. acho ainda que as crianças também têm uma facilidade enorme de ir com a minha cara: não consigo nem contar quantas vezes uma delas grudou em mim sem que eu tivesse feito nada. nem me acho muito boa nas brincadeiras, só pode ser minha cara de desenho animado. :P

mas não quero, de jeito nenhum, me transformar numa das minhas colegas de trabalho, cujos maridos não ajudam em nada e contratam babá, cozinheira, faxineira e, ainda, folguista, para dar conta do recado. nem muito menos tenho vontade de encarar uma produção independente. acho que só teria um filho se fosse com um pai que realmente quisesse ser pai. por que, na minha casa, eu tive um exemplo incrível: meu pai sempre ficava sozinho com três meninas pequenas no final de semana, enquanto minha mãe estava no plantão. não tinha essa história de folguista não.

por que eu estou falando isso tudo aqui apesar de estar morrendo de vergonha? por que eu penso nas outras mulheres que, assim como eu, ficam sofrendo por essas coisas. mas é muito difícil tirar do sistema uma coisa que você passou a vida inteira sendo treinada para repetir e eu queria mesmo poder ajudar a desconstruir essas ideias malucas que colocam na cabeça da gente. estou tentando começar com minhas afilhadas, que, se depender de mim, não vão perder nem meio segundo com esses dilemas.

agora, sou a titia mais feliz desse mundo por que tenho minha mariana. ela não me chama de titia, só "cauol", mas sou titia sim, com orgulho. não tem coisa melhor do que vê-la entrar correndo, toda estabanada, no quarto, gritando meu nome. meu maior desejo é que ela tenha uma vida sempre alegre como nossas tardes passeando de motoca no parquinho e fazendo amizade com todas as outras crianças que passam por perto.

e quero mais sobrinhos. muito mais! (só não sei se minhas irmãs estão dispostas a me dar. :P)

segunda-feira, maio 30, 2016

das resoluções de ano novo (em construção)

“but i have my life, i’m living it. it’s twisted, exhausting, uncertain, and full of guilt, but nonetheless, there’s something there.”
(banana yoshimoto, the lake)

sei que já estamos quase na metade do ano, mas as minhas grandes resoluções de ano novo foram tomar coragem, comprar um apartamento e sair da casa dos meus pais.

ainda estou na etapa de tomar coragem, até por que é muito cômodo para mim continuar na inércia. é como um amigo meu sempre diz: na casa dos pais tudo acontece num passe de mágica... as roupas se lavam, a comida se faz e o quarto se arruma. :P

mas, deixando as brincadeiras de lado, acho que, em parte, posterguei a minha saída de casa por que sempre achei que iria passar em um concurso melhor, tipo para juíza ou procuradora, e achava que me mudar iria atrapalhar meus estudos. mas a verdade é que, os anos passam, e menos vontade eu tenho de estudar para essas provas. demorei muito para perceber que a minha vontade de ter um cargo desses tinha muito mais a ver com vaidade do que com vocação, então resolvi deixar de lado. e abandonar essa ideia fixa me fez um bem danado, pois me senti livre para dedicar meu tempo a coisas que me faziam mais feliz, como passar as manhãs estudando uma língua nova ou lendo os trocentos livros que eu sempre quis ler.

outro motivo que me fez correr da obrigação de pagar uma parcela de um apartamento, foram as minhas viagens. desde que comecei a ter meu próprio salário, comecei a viajar feito louca. mas se tem uma coisa que sempre foi uma constante na minha vida foi o meu sonho de conhecer o mundo. começou quando eu tinha oito anos e meu pai perguntou se eu queria passar quinze dias em brasília na casa de uma tia que eu mal conhecia e lá fui eu viajar de avião pela primeira vez... sozinha.

porém, achei meio sintomático o fato de ter feito quatro viagens internacionais no ano passado. e, apesar de as viagens todas terem sido incríveis e de eu não me arrepender de nenhuma, confesso que me senti meio cansada. comecei a pensar se não estou precisando viajar menos para valorizar mais. por isso, minha intenção é fazer apenas fazer uma viagem internacional este ano. (vamos ver se consigo :P)

a viagem está se aproximando e, enquanto isso, eu passo horas nos sites com anúncios de imóveis, olhando os preços e sonhando. tenho vontade de visitar alguns apartamentos, mas fico meio em dúvida, por que só poderei fazer algo mais concreto quando voltar.

também sei que eu tenho um medo enorme a superar, que é um medo de crescer. e, enquanto eu morar na casa dos meus pais, apesar de ser servidora pública e ter mil responsabilidades, não parece  que eu cresci de verdade. mas sei que estou precisando urgentemente superar esse medo, até por que, sendo a dona da minha própria casa, tenho a sensação que será um pouco mais fácil viver a minha vida do jeito que eu entendo que é certo: como se estivesse casando comigo mesma. além disso, morar com os pais pode ser bom, muito bom, ótimo... até que fica muito ruim.

quarta-feira, maio 11, 2016

escritora?

uma amiga minha, sempre que me encontra, diz que eu tenho que voltar a escrever poesias.

pois é... há uns quinze anos eu vivia escrevendo e, surpreendentemente, algumas coisas que eu escrevi, eu gosto até hoje.

sempre que minha amiga vem com essa história, eu confesso que fico meio intrigada. até por que, foi essa faísca de vontade de escrever que me fez voltar a este blog.

acho esse desejo foi algo que me acompanhou praticamente a vida toda. talvez tenha começado aos nove anos, quando ganhei a competição de frase tema da festa dos pais do colégio, e eu tive a sensação que podia escrever algo e as pessoas podiam gostar. a cara de orgulho do meu pai quando minha frase estava lá escrita bem grande no auditório e todos os outros pais estavam usando camisetas com ela foi impagável. ele até  emoldurou o convite da festa, que tinha a frase  na capa e meu nome embaixo.

depois, quando eu fiquei um tiquinho mais velha, comecei a escrever novelinhas para os colegas do prédio. era super divertido quando todo mundo, à noite, se juntava para ouvir um dos nossos amigos ler alto o mais novo capítulo que eu tinha escrito. era bem besta, mas todos gostavam muito. e eu escrevia como uma máquina.

mas aí meu pai, que continuava morrendo de orgulho de qualquer besteira que eu fizesse, resolveu mostrar minhas historinhas para um amigo escrito e imortal da academia pernambucana de letras. e, para piorar, o cara ainda quis conversar comigo. morri de vergonha, é claro, e, apesar de ele ter sido muito gentil e ter recomendado que eu lesse mais os clássicos para poder escrever melhor, depois disso eu travei.

apesar da boa vontade do meu pai, passei um tempão sem escrever mais nada depois dessa conversa. só que aquela faísca, que nunca me deixou em paz, me fez começar a escrever as tais poesias das quais minha amiga sempre fala alguns anos depois.

mas confesso que o bloqueio continua lá me fazendo ter vergonha das coisas que escrevo. e sempre que a vontade vem, começo a ler loucamente um monte de livros para ver se aprendo alguma coisas, mas não consigo escrever nenhuma linha de ficção ou de poesia. acho que, lá no fundo, penso que a única pessoa que vai gostar do que eu escrever é meu pai, que morre de orgulho de qualquer besteira que eu faça.

daí só consigo mesmo vir correndo pra este blog e usá-lo como cano de escape. e, sinceramente, não sei se conseguirei escrever alguma coisa além destes posts.

quarta-feira, abril 27, 2016

apenas respire

ontem, completei trinta dias meditando todos os dias (31 hoje) e é impressionante o efeito positivo da minha dedicação. não foi nenhum milagre, mas sinto que tenho passado menos tempo sendo consumida pela ansiedade, que sempre foi uma companheira constante na minha vida. e digo que me sinto melhor (não curada, infelizmente), principalmente porque, levando em consideração o cenário político absurdo do país, eu estou conseguindo lidar com mais calma as coisas que acontecem e que não são nem um pouco do meu agrado, nem estou saindo por aí brigando com os reaças mais próximos (como aconteceu na época das eleições).

todo dia, eu separo uns minutinhos, sento e simplesmente me concentro na minha respiração. de acordo com o que me ensinaram, a ideia não é esvaziar a cabeça dos pensamentos, mas observar quando eles surgem e deixá-los ir embora, sem se apegar a eles. o objetivo disso é aprender como a mente funciona e ver como estamos apegados a arrependimentos do passado ou estamos focados demais nas coisas que queremos para o futuro e nos esquecemos de viver o momento presente. e também esquecemos que quando o futuro chegar (se chegar), ele será o presente e a vida vai passar sem que a gente nunca aproveite de verdade.

quando comecei a meditar, cinco minutos era o máximo tolerável. ficava ansiosa até com o fato de ter que ficar parada: o nariz coçava, o pescoço doía, dava sono... nunca pensei que fosse tão difícil ficar sem fazer nada. mas, com o tempo, foi ficando mais fácil e, agora, já consigo passar mais de trinta minutos com certa facilidade.

o interessante é que a meditação para mim, assim como minha relação com o budismo, não tem nada de religioso. não tem nada a ver com fé em algo desconhecido, que vai melhorar minha vida num passe de mágica ou que me promete mundos e fundos para depois da morte. eu apenas tenho aprendido a viver melhor, com a vida que tenho hoje. e quanto mais eu frequento palestras e leio livros, mais eu sinto que estou no caminho certo.

ainda não sou capaz de olhar para eduardo cunha e imaginá-lo sentado na flor de lótus e ainda falta uns cinquenta anos para eu completar minhas cinco mil horas de meditação para alcançar a iluminação, mas um dia eu chego lá. :P

(ou não... desde que eu consiga viver melhor minha vidinha simples, tá de bom tamanho)

segunda-feira, abril 18, 2016

life is unfair, kill yourself or get over it

“i, on the other hand, still might not be considered a proper adult. i had been very grown-up in primary school. but as i continued through secondary school, i in fact became less grown-up. and then as the years passed, i turned into quite a childlike person. i suppose i just wasn't able to ally myself with time.”
(hiromi kawakami - the briefcase)

acho a vida adulta uma coisa realmente assustadora. não me adapto. acho que não sei o que estou fazendo a maior parte do tempo e me sinto triste por não me sentir muito "adequada".


mais assustador ainda é descobrir que as outras pessoas estão tão perdidas quanto eu por aí. por que, por mais que suas vidas pareçam aquele comercial de margarina no facebook, quando você chega mais perto e troca dois dedos de prosa, percebe logo que não é bem assim. muita gente decepcionada com as escolhas que fizeram na vida, alguns que têm uma carreira que muitos invejam estão insatisfeitas com seu trabalho, muitos casamentos que pareciam "para sempre", pelo menos para quem está do lado de fora, se acabam (ou se arrastam numa mentira eterna por que um não quer magoar o outro) e outras pessoas passam por perdas terríveis de uma hora pra outra, sem que haja maiores explicações... simplesmente acontece.


eu confesso que fico realmente impressionada quando tenho umas conversas sinceras com algumas pessoas. tenho certeza, inclusive, que se eu tivesse a oportunidade de trocar ideias, assim de peito aberto, com mais gente, sei que iria descobrir que muitos arrastam uma frustração grande com a vida que levam e acham que só seria feliz em outras circunstâncias.


e qual a conclusão bastante óbvia disso tudo? é que o jeito que todos nós encaramos a vida está completamente errado. (pelo menos o meu está e muito). e andamos pelo mundo sozinhos e assustados, sem saber muito bem o que fazer dos nossos dias.


o que é ser adulto? o que é ser "adequado", afinal?


acho que a melhor resposta, até agora, veio das palestras no centro de estudos budistas que tenho frequentado. era algo como liberar aquilo que você pensa que é, para ser o que realmente é (não lembro as palavras exatas). pode parecer uma besteira, mas desde que escutei isso, alguma coisa mudou por aqui. e estou sentindo uma mini revolução ocorrendo dentro de mim.


isso não quer dizer que, num passe de mágica, tudo ficou melhor e eu estou me sentindo ótima no mundo. mas foi um primeiro passo... outro está sendo não esquecer que estamos todos juntos nesse barco furado, tentando ser felizes.

segunda-feira, março 14, 2016

redoma de vidro

"da ponta de cada galho, como um enorme figo púrpura, um futuro maravilhoso acenava e cintilava. um desses figos era um lar feliz com marido e filhos, outro era uma poeta famosa, outro, uma professora brilhante, outro era ê gê, a fantástica editora, outro era feito de viagens à europa, áfrica e américa do sul, outro era constantin e sócrates e átila e um monte de amantes com nomes estranhos e profissões excêntricas, outro era uma campeã olímpica de remo, e acima desses figos havia muitos outros que eu não conseguia enxergar. me vi sentada embaixo da árvore, morrendo de fome, simplesmente porque não conseguia decidir com qual figo eu ficaria. eu queria todos eles, mas escolher um significava perder todo o resto, e enquanto eu ficava ali sentada, incapaz de tomar uma decisão, os figos começaram a encolher e ficar pretos e, um por um, desabaram no chão aos meus pés." (sylvia plath)

nos últimos tempos, só tenho conseguido me dedicar ~ de verdade ~ a assistir séries de tevê bem bestas. e foi assistindo "master of none" no netflix, série super lesa, mas ótima nos meus padrões atuais, que, no último episódio, me fez dar de cara com a indicação desse livro, o único romance de escrito por sylvia plath: a redoma de vidro.

assustadoramente, por saber um pouco como foi a vida da escritora, me identifiquei demais com a estória (piorou quando descobri que foi uma espécie de autobiografia que ela publicou sob um pseudônimo). mas é exatamente assim que venho me sentido nos últimos anos, com milhares de possibilidades de vida maravilhosas se apodrecendo na minha frente sem que eu consiga fazer nada a respeito.

acho até que a situação se agravou substancialmente com perda do meu amigo, mas é algo já antigo. não consigo evitar, mas, o tempo inteiro, fico observando as vidas das pessoas à minha volta para tentar descobrir o que as faz levantar da cama todo dia e ir estudar, trabalhar ou sei lá o quê.

quanto a mim, adoro viajar e planejar minhas viagens, mas não posso passar todos os meus dias viajando... então, o que fazer no meio tempo? assim, percebi que comecei a me tornar numa pessoa chata, sempre muito deprimida.

mas agora resolvi tentar virar o jogo. os meus dias têm que ser mais divertidos e, se estudar para um concurso melhor não está me fazendo feliz, é por que eu estou escolhendo o caminho errado. a primeira atitude foi me matricular num curso de alemão. por quê? por que eu queria há um tempão e nunca me permitia.

sei que ainda não posso largar tudo para fazer um curso para aprender a fazer massa em roma, mas espero ter a coragem de fazer o que for preciso, quando descobrir o que realmente quero. só não posso continuar sendo a mulher que fica olhando os figos apodrecerem e caírem dos galhos da árvore...

sexta-feira, fevereiro 19, 2016

como dizer adeus?

então, meu amigo se foi.

não adiantou encher o saco dos médicos ou tentar barganhar com deus. ele foi piorando, piorando, passou uma semana declarando amor para todos os amigos na uti, depois piorou mais ainda e, finalmente, não aguentou mais.

por mais que eu soubesse que a saúde dele era extremamente frágil, eu não estava preparada para isso. achava, sei lá, que ele fosse durar pelo menos mais uns dez anos. ou fosse virar semente.

nem mesmo lá em barcelona, quando ele ficou internado no semi-intensivo após uma hemorragia interna, quando só tinha euzinha lá com ele, me passou pela cabeça que ele pudesse morrer. eu - sabia - que ele ia ficar bom e eu só tinha que resolver como pagar o hospital. felizmente, tudo deu certo e eu o devolvi, são e salvo, para a família dele.

mas, desta vez, eu não consegui.

a vida está estranha sem ele. me sinto muito só e tenho muito medo. me sinto desprotegida. por que, por mais que ele tivesse as suas inúmeras limitações, ele cuidava muito mais de mim do que eu dele. e sem pedir nada em troca, além da minha amizade.

tem horas que parece mentira. parece que ele só está passando por aquelas fases que não pode sair muito de casa e que, logo logo, vai estar por aí de novo. mas tem outras que a realidade vem como uma avalanche e eu nem tenho lágrimas suficientes para chorar tudo o que preciso.

às vezes, acho que devia ter dito mais como ele era importante para mim. mas, por outro lado, acho que não precisava dizer nada. que, no meio de toda a minha tagarelice, ele escutava o que o meu coração estava dizendo.

perdi meu maior companheiro para passeios sem futuro. de ir pro cinema, sem fazer check-in, para ninguém saber. para comer cachorro-quente no domingo à noite. de ir almoçar comigo nos dias que eu era obrigada a passar o dia inteiro no trabalho e fazer a experiência ser bem menos traumática. para fazer companhia nos momentos mais difíceis e, mesmo que eu não conseguisse dizer o que estava passando para ele, me ajudar como ninguém mais conseguia. além disso, só ele para me acompanhar cantando hefner aos berros ou imitando o dueto de ben folds e regina spektor e continuar gostando de mim do mesmo jeito.

falando em música, impossível não lembrar daquela fila interminável no detran e a gente cantando "death to everyone" dentro do carro e rindo por horas. pois é... "death to everyone is gonna come...", mas preferia que eu não tivesse que ter visto você ir primeiro.

sexta-feira, janeiro 01, 2016

all i want for christmas

tudo o que eu mais quero, neste momento, é que meu grande amigo saia da uti e consiga fazer o transplante de coração com sucesso. todo o resto foi para segundo plano e eu estou até barganhando com deus. prometi que se meu amigo sair dessa vou procurar alguma maneira de fazer uma pessoa feliz da mesma forma. seja comprando uma cadeira de rodas ou outra coisa que uma pessoa carente precise e que eu tenha condições de resolver. quero deixar aqui registrado.

meu amigo é uma das pessoas mais maravilhosas que eu conheço neste mundo. companheiro, fiel, doce e incapaz de fazer mal a uma mosca. um dia a vida foi muito legal comigo e me deu esse querido de presente, que eu amo como se fosse um irmão de sangue. ele merece realizar muitos dos sonhos que ele sempre deixou para depois, por causa da sua saúde eternamente frágil. ele merece ser feliz e que ele fique melhor é a única coisa que eu espero deste ano que está começando.